O conceito de Inclusão como participação plena de todos traduz um olhar mais amplo sobre as relações humanas. Inclusão diz respeito, nesta acepção, a uma sociedade que, composta por uma diversidade de sujeitos, busca reduzir, ao máximo, as barreiras à participação destes. É um processo permeado por muitos movimentos, jogos de poder e visões de mundo em conflito. O reconhecimento desta diversidade e ainda, dos aspectos positivos que esta condição proporciona (diálogos, circulação de conhecimentos, revisão de posturas…) é um primeiro passo para a construção de uma sociedade mais inclusiva, ainda que saibamos que, como processo que é, esta construção jamais terá fim.
Para este Laboratório, o conceito de inclusão é entendido de forma mais ampla e dentro de uma perspectiva intitulada omnilética (SANTOS e FONSECA, 2013), que compreende o reconhecimento das manifestações da vida individual, social, grupal e institucional nas dimensões das culturas, políticas e práticas, que são complementares e relacionam-se de forma tanto dialética quanto complexa entre si. A construção do termo omnilética, cunhado por Santos (2012-2013) é composto de três elementos morfológicos: o prefixo latino omni (tudo, todo), o radical grego lektos (variedade, diferença linguística, mas aqui enfatizando especialmente a variedade e a diferença) e o sufixo grego ico (concernente a). Para compor este conceito, Santos (2012-2013) associa às dimensões de culturas, políticas e práticas, definidas por Booth e Ainscow (2012) mais duas dimensões, a da dialética e a da complexidade.
A dimensão das culturas representa o plano em que, internamente, são construídas as práticas discursivas, as crenças e tudo aquilo que, provavelmente, justificará a criação de políticas e a implementação destas.
A dimensão das políticas representa as normas, as leis, as regras, as convenções, as deliberações, que objetiva ou subjetivamente, consciente ou inconscientemente, refletem os valores (culturas) compartilhados por uma determinada sociedade. As políticas se apresentam mais ou menos participativas, à medida que se oriundam de culturas mais ou menos inclusivas.
A dimensão das práticas representa a concretização das culturas e das políticas, visto que as ações adotadas por um governo se basearão, fortemente, na concretização de suas políticas. A dimensão da dialética supõe que toda a realidade está em contínua mudança e descobrindo novos aspectos de si mesma. Propõe a contradição como o que movimenta e transforma o sujeito.
Neste contexto, a contradição dialética revela um sujeito que surge, se manifesta e se transforma graças à contradição de seus predicados. Essa contradição, implica na ênfase que a produção dá a “um novo tipo de contradição”, que para Konder (2008, p. 29) é gerada quando, na divisão de classes, “alguns homens passaram a dispor de meios para explorar o trabalho dos outros”. Todavia, a contradição, mesmo revelando as profundezas da desigualdade pode “significar o surgimento de uma dimensão oculta na realidade e anunciar um novo progresso no conhecimento” (MORIN, 1996, p. 86)
A dimensão da complexidade diz respeito ao movimento de juntar, reunir. Pensar a complexidade é respeitar a tessitura comum, o complexo que ela forma para além de suas partes. O pensamento complexo deve ser capaz não apenas de religar mas de adotar uma postura em relação à incerteza. Nesse contexto, será preciso instaurar a oposição da racionalização fechada para a racionalização aberta, que considera “as paixões, a vida, a carne dos seres humanos” (MORIN, E. 1996) e não se pulveriza frente aos eventos inesperados. Assim, à luz da omnilética, o conceito de inclusão está relacionado às estas 5 dimensões.
REFERÊNCIAS:
BOOTH, Tony; AINSCOW, Mel. Index para Inclusão: desenvolvendo a aprendizagem e a participação na escola. 3. ed. UNESCO/CSIE. Rio de Janeiro, 2011. Tradução de Mônica Pereira dos Santos. Disponível em: https://www.lapeadeufrj.rio.br/materiais-e-dicas/index-para-a-inclus%C3%A3o. Acesso em: 16 abr. 2021.
Konder (2008, p. 29) Konder L (1981) O que é dialética? What is dialectic? 25th ed. Brasília: Brasiliense.
MORIN, E. 1996) Complexidade e liberdade. In: Morin, E. Prigogine, I et al. A sociedade em busca de valores: para fugir à alternativa entre o cepticismo e o dogmatismo. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.
SANTOS, Mônica P.; FONSECA, M. P. S. . CONCEPÇÕES DE DOCENTES E LICENCIANDOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ACERCA DE INCLUSÃO EM EDUCAÇÃO: PERSPECTIVA OMNILÉTICA EM DISCUSSÃO. Interaccoes, v. 09, p. 128-145, 2013.