COMPREENDENDO OS ASPECTOS GENÉTICOS E SOCIAIS DA SÍNDROME DE DOWN
A síndrome de Down caracteriza-se geneticamente pela trissomia do cromossomo 21 e traz características fenotípicas (aparentes) e, algumas deficiências em processos cognitivos como linguagem, fala e memória auditiva de curto prazo, além de dificuldades no desenvolvimento motor. As deficiências aparecem em alguns processos das Funções Psicológicas Básicas, como: atenção, percepção, sensação e memória. Com isso, a mediação social das pessoas mais experientes, no caso da escola e do professor, é primordial para ampliar as potencialidades e estabelecer a relação destas funções com as Funções Psicológicas Superiores, na construção da linguagem escrita.
Importante também ressaltar as conseqüências relacionadas à hipotonia (baixo tônus muscular), que favorece a fadiga e o desequilíbrio, desencadeando a atenção reduzida e alteração na coordenação motora grossa e fina, o que influencia na linguagem escrita; traz ainda o carimbo de preconceitos e rejeições adotados pelo modelo clínico (SILVA, KLEINHANS, 2006; VOIVODIC, 2004).
A criança com síndrome de Down apresenta como deficiências primárias a memória auditiva de curto prazo e a hipotonia muscular. (BUCKEY; GILLIAN, 1993). Tais características afetam a linguagem expressiva, a coordenação motora ampla e fina, somada à baixa atenção, de maneira que se deve iniciar a sua estimulação o mais precocemente possível, para possibilitar seu desenvolvimento. Por outro lado, apresenta como potencial a memória visual e a memória de longo prazo, já mencionadas anteriormente, significando que as intervenções serão pautadas nas potencialidades, estimulando a plasticidade com a ampliação de áreas remanescentes para realização de atividades complexas, como a linguagem escrita (BUCKEY; GILLIAN, 1993).
Portanto, quando esta criança recebe mediação social, e estimulação precoce até a fase escolar, com a intervenção de uma equipe multiprofissional dando suporte ao professor (mediador), a aquisição da linguagem escrita ocorrerá a partir da mediação e passa a dar suporte à sua memória, pois ficam guardadas através de registros gráficos. Estas informações podem ser acessadas a qualquer momento, possibilitando o crescimento da linguagem oral. Segundo
Vigotsky (2001) a linguagem envolve os planos semântico e fonético, em que o primeiro diz respeito à compreensão e o segundo, à expressão. A criança com síndrome de Down não traz a compreensão como deficiência primária, porém possui dificuldade na expressão o professor acaba não estabelecendo diálogo, dificultando e/ou impedindo o desenvolvimento da linguagem desta criança. Desse modo o comprometimento nessa memória é considerado uma das causas do desenvolvimento intelectual e da linguagem apresentarem déficits. Esse decréscimo ocorre devido os mediadores acessarem o canal de menor potencial da criança (memória auditiva de curto prazo), enquanto que o caminho para impulsionar o crescimento seria através do seu potencial que é a memória visual (FERREIRA, D.; FERREIRA, W.; OLIVEIRA, M., 2010).
Observa-se, assim, que a criança com síndrome de Down quando estimulados seus potenciais, como memória visual e memória de longo prazo, terá um bom desenvolvimento na aquisição da linguagem escrita. Buckey e Gillian (1993) apoiam-se a tese do uso da leitura como método para ensinar a linguagem oral. Existem dois tipos de linguagem: a receptiva e a expressiva. A primeira é responsável pela possibilidade de entender palavras e gestos, enquanto a segunda é responsável pela utilização de gestos, palavras, símbolos escritos e outras formas de comunicação. Na criança com síndrome de Down (SD), a linguagem expressiva apresenta um desalinho com o seu desenvolvimento, porém a receptiva associada aos gestos e à fala, com informações simples e objetivas, favorece a compreensão. Desse modo, fica evidente que a criança com SD compreende o mundo à sua volta, mas a verbalização exige um tempo maior para ser construída (VYGOTSKY, 2001; FERREIRA, D; FERREIRA, W; OLIVEIRA, M., 2010).
As crianças com síndrome de Down deparam-se com algumas barreiras na sociedade que impossibilitam o seu direito à acessibilidade, dentre as quais destacam-se:1)Comunicacional: inclui todas as formas de comunicação, seja escrita, falada, virtual ou interpessoal, devem ser acessíveis em todos os níveis das relações; 2) Acessibilidade Metodológica: compreende os métodos e as técnicas; 3) Instrumental: consiste acesso livre e funcional do arsenal de materiais que o indivíduo necessita; 4) Programática: trata-se de barreiras não palpáveis, como ausência de leis, decretos, portarias favoráveis e; 5) Atitudinal: são os comportamentos embutidos das relações que estão presentes nas subjetividades, como preconceitos e discriminações (SASSAKI, 2006). Em função disso, há necessidade de se compreender e conhecer as especificidades de cada criança com síndrome de Down.
Referências:
BUCKEY, Sue; GILLIAN, Bird. Ensinar as crianças com síndrome de Down a ler. Síndrome de Down de Pesquisa e Prática. Ano 01, n.1, p. 34-39, 1993.
FERREIRA, Diana Regina dos Santos Alves; FERREIRA, Winory de Andrade; OLIVEIRA, Silva. Pensamento e Linguagem em Crianças com Síndrome de Down. Ciência e Cognição, Rio de Janeiro, V.15, n.02, p.216-227, 2010.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7.ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.
SILVA, Maria de Fátima Minetto Caldeira; KLEINHANS, Andréia Cristina dos Santos. Processos Cognitivos e plasticidade cerebral na Síndrome de Down. Revista Brasileira de Educação Especial. V.12, n. 1, p.123 – 138, Jan – Abril. 2006
VOIVODIC, Maria Antonieta Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de Down. Petrópolis, RJ : Vozes, 2008. ______. Inclusão Escolar de Criança
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.